quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Um brado em defesa da ética na assessoria de imprensa

Muitas vezes ouvi críticas e desdém em relação ao trabalho dos assessores de imprensa, quando trabalhava lá do “outro lado do balcão”. As maledicências versavam sobre o fato desta modalidade de jornalista ter se vendido para o sistema, ter uma relação comercial com a notícia, trabalhar de forma explicitamente tendenciosa em favor deste ou daquele que o pague para isso...mas tais adjetivações nunca me fizeram eco. Aliás, quando fui pauteira de TV recebi tanto release ruim que foi lá que me deu vontade de mudar de atividade profissional. Pensei: “Vou fazer direito o que esses caras não sabem fazer!”

E olhe que hoje eu realmente tenho uma relação comercial com a notícia, trabalho explicitamente para elaborar esta ou aquela informação ou conceito, mas só 'vendo' o meu trabalho para quem eu quero, onde haja afinidade e onde haja respeito. Em suma, avancei porque hoje eu SEI quem me paga, POR QUE me paga, QUANDO E QUANTO paga e posso, ainda, escolher com QUEM trabalhar. Sim, creio que evoluí na minha profissão. Tudo que faço parte das minhas escolhas!

A História

Ora, lá em 1995, depois de ter aprendido muita coisa cobrindo a Escola Base, os Anões do Congresso, o Caso Collor, o seqüestro de Luis Salles e Abílio Diniz, eu senti que o meu tempo na redação tinha os dias contados e que as grandes coberturas seriam menores no futuro. Primeiro porque a forma de se trabalhar na TV Cultura, onde eu passei boa parte dos meus melhores tempos de redação, estava passando por mudanças profundas. Nas demais redações de TV pelas quais passei, o trabalho era meio de “carregação” e à medida que o tempo foi passando, a certeza de que eu não cabia mais naquele ramo de negócio ia ficando mais clara a cada dia.

Bem, eu gosto de ser jornalista, mas acho que gosto mais de ganhar dinheiro. Então, comecei a trilhar, ainda que intuitivamente, o meu caminho de Mega empresária de sucesso no ramo da comunicação corporativa. “Vou vender para os clientes a mesma dinâmica que imprimo aqui na redação, mas voltada aos negócios”, pensei. E assim fui caminhando passo a passo.

Mimada pelos clientes


Um dos primeiros clientes foi Eduardo Todres, O cara que sacou um nicho que os jornalistas que cobrem economia nunca tinham botado reparo. Ele começou a fazer uma feira de negócios para lojistas de 1,99 e me chamou para fazer o plano de comunicação do empreendimento, isso em 2000. Hoje o Eduardo Todres é um dos meus amigos e é cliente fidelizado, do qual eu muito me orgulho. O Stein e a Keila, do Barnaldo Lucrécia, também me “aturam” há quase uma década, mas é outra história de amor e valor. Nesse meio tempo veio o Zalla, do Edge Group, que de cliente virou sócio, e o Fábio Castro, da Promocat, com o qual trabalho desde 2003 e que também tornou-se um valioso amigo, com muito trabalho bom realizado nesse período. E o fofo do Goulart de Andrade, então! Só o máximo! E mais, não tenho contrato com nenhum deles, pois nenhum de nós precisa de "instrumento legal" para saber lidar com isso...

Essas pessoas, para mim, são o padrão de trabalho sério e respeito ao bom jornalismo. No atendimento a cada um deles eu uso TODAS as ferramentas que aprendi na faculdade e depois nas redações, ou seja, notícia apurada, informação verdadeira, rapidez na ação e muita atenção e respeito aos demais colegas na condução do trabalho corporativo. Eles me acostumaram ”bem” e hoje eu sou uma assessora de imprensa “mimada”.

Infelizmente, nessa jornada também houve uns espinhos, pois o mercado de assessoria tem uma nuvem de ‘promiscuidade’ perigosíssima, sob a qual nós podemos estar, e às vezes, sem saber. A leviandade vem do cliente que ‘acha’ que o assessor vai enganá-lo e então ele só vai pagar pelo trabalho se sair matéria na capa da Veja e se ele for parar no sofá do Jô Soares (SIC). Eles nunca vão entender que essas escolhas editoriais não são o nosso trabalho, que se resume em elaborar uma informação que possa se encaixar em alguma editoria, e mesmo assim, temos o mercado todo para concorrer com aquele assunto em divulgação. Mas o pior mesmo é que nem sempre o cara está com essa bola toda, mas ele 'se acha'.

"O assessor, aquele otário que ‘se vendeu para o sistema’? Ora, ele que se lasque, porque eu não vou pagar por esse trabalho... só saiu uma notinha na Caras e mais nada! "

GENTE, PRECISAMOS SABER IDENTIFICAR ESSES TIPOS!!!

Bem, o caso não é isolado. A modalidade dos golpes varia de tempos em tempos, mas em linhas gerais eles acham que contratam o assessor para fazer algum ‘esquema’ que os promovam nas melhores mídias do país. Você pede o contrato, eles dizem que o Jurídico vai encaminhar a cópia, você pede para emitir a nota fiscal e os canalhas dizem que só podem acionar o financeiro depois do contrato assinado, mas eles têm MUITA urgência de começar o trabalho.... E você vai acumulando uma lista enorme de deveres, em detrimento da lista de direitos. Como a gente espera que esteja trabalhando com gente séria, prosseguimos no trabalho, propriamente. Aí é que a gente se ferra, pois se o canalha, por algum motivo dele, achar que você não trabalhou, pode ter certeza de que o calote é certo! Muitas vezes ele já está esperando para te dar um ‘gato’, porque ele vive de pequenos golpes e acha que está se dando bem em mais uma cena, com o otário jornalista à sua frente.

A REAÇÂO

Bem, colegas, está na hora de nós estabelecermos uma ação de defesa da Ética do jornalismo corporativo. E que isso valha também para os assessores de fundo de quintal, pois não é possível que haja só jornalista bonzinho, não é? Trabalho picareta precisa ser dizimado, pois ele contribui para alimentar a promiscuidade junto ao cliente.

O que vem primeiro? O assessor de imprensa picareta ou o cliente promíscuo ? Bem, isso agora não importa. O que importa é que a gente poderia fazer um CADASTRO NEFASTO, subordinado a um comitê de ética, para que, a partir de regras simples e claras, a gente possa debelar para sempre, esse desrespeito que vez ou outra nos acomete no exercício da atividade profissional. Neste CADASTRO NEFASTO a gente põe o nome do picareta, uma espécie de lista negra, onde o cara nunca mais vai conseguir contratar otário nenhum para ele explorar ou subestimar.

Toda vez que a gente for chamado para uma reunião, antes a gente consulta o cadastro, se compõe e se organiza, para que evitemos a condição de ‘vitimas’ e tenhamos a nossa dignidade valorizada e defendida por nós mesmos.

As grandes assessorias, se quiserem entrar também, serão bem-vindas, pois sabemos que elas também passam por agruras.

A auto-estima do assessor de imprensa, e também do jornalista, devia ser como a do motorista de ônibus – a empresa não pagou o salário? Ora, o ônibus não sai da garagem! O padeiro ou o frentista também fazem assim, se a grana deles for desrespeitada. Então por que jornalista deve fazer diferente? A gente não tem família, casa, carro e despesas? Temos sim, e precisamos pensar de forma mais prática, pois a vida pode ser ainda mais agradávell

Chame uma faxineira para trabalhar na sua casa, não lhe forneça, rodo, vassoura e pano de chão, e ainda diga a ela que vai pagar´"só" se a casa ficar limpinha, para ver o que lhe acontece! Por que com a gente, jornalista, a relação de trabalho é encaminhada de outra forma?